terça-feira, 19 de julho de 2011

Fazer a sesta e apostar no produto nacional

É daquelas verdades tão estafadas que já só fazem bocejar. O lusitano é um espécime singular que vareja por terras de excepção. Só tem um problema ou dois ou três. Não desenvolve toda a sua genialidade (pensa-se que o lusitano médio utiliza apenas 20% do cérebro, mais do que o suficiente para liderar o ranking dos 193 países da Terra), tem muita dificuldade em descer do abstracto para o concreto e é vítima de incompreensão e inveja generalizadas.

O filme Limitless de Neil Burger, um funny-thriller que se recomenda, aborda e resolve quimicamente o défice de aceleração da massa cinzenta: NZT 48.
Porém, o mais interessante nesta fita, sustentada num livrito de Alan Glynn, é que arrisca sair da fórmula sofisticada de sexo&drogas&rock and roll. Carl von Loon (De Niro) e Eddie Morra (Bradley Cooper) dão-se ao devaneio teórico, à lógica financeira, pronto, aos Black Swans. Que em Portugal são tidos e ditos por Cisnes Albinos.

Atente-se neste limit(less). Portugal teve a mais poderosa marinha do mundo, dominava as rotas e o comércio global....e que fez? Desconcentrou, refugiou-se no campo electromagnético a 20% e deitou-se a dormir a sesta. Qual foi o resultado? Hoje é um brejo endividado de “cheap condos” em pauperização deslizante. Estes yankees são uns cabrões. E burros.

Portugal segue na linha da frente em todas as ciências e domínios do saber. Um exemplo à toa. Ainda antes dos derivados, dos CDSs, e da espiral dos défices, já, ali ao Norte de Portugal, um clube de futebol emergia da obscuridade- eles dizem que foi mérito da democracia- e construía um modelo de referência para o Mundo do Futebol. Qual o segredo? Simples. Assobiar ao “venture capital”, perdão, “capital de risco”, e fazê-lo transportar em linha por lanchas rápidas desde Vigo ou La Coruña. Que lhes pode ensinar Krugman ou Gates? Nada.

Saltemos por cima das ciências secundárias e dos saberes particulares e concentremo-nos sócios no campo unificador da Política, em especial, na ciência Primeira da Governação. A nossa, claro.

Como se sabe, o governo de Passos Coelho tomou posse já com programa escrevinhado e aprovado. Com esta etapa sempre entediante cumprida, a governação pode dar-se ao luxo de umas sestas suplementares, entre as sestas regulares e os períodos normais de não vigília. Mas não há bela sem senão e o senão é que não há direito ao canónico estado de graça. Aqueles 100 dias, nos dizeres de um poeta neo-realista ribatejano e de um comediante prussiano, em que toda a esperança é possível e os erros são verdades mal desenvolvidas.

Pode, pois, e deve, o Javali Sentado avançar já com uma avaliação preliminar destas primeiras quinzenas- preferimos esta unidade de conta, um dia explicamos- da Governação.

O primeiro a demitir-se até ao Natal deverá ser o Álvaro Santos Pereira, o ministro da Economia e do Emprego.
Álvaro, vamos tratá-lo assim, é um investigador publicado, um democrata anglo-saxónico, um economista inteligente e ambicioso....mas muito platónico. Quando perceber que àquela promoção constrangedora das indústrias criativas, em nome do emprego, claro, segue-se nada, pois, zarpa para Vancouver e deixa aos colegas “A Vantagem de Ser Bobo” de Clarice Lispector.
É bom de considerar que há décadas as Caldas da Rainha vêm produzindo o melhor artesanto lusitano, só que ninguém lhe chamava indústria criativa. E não se diga que é monocultura e monotemático. Há frades, há freiras, há Eusébios, há canecas, há gaitas, há galheteiros e por aí fora. Tudo para o Caldas.


JSP aka Xiconhoca.come

PS: Noutra oportunidade, abordaremos o pior do Crato.

3 comentários:

  1. Não consegui ler tudo, isto de estar sem computador tem a suas limitações. A maior marinha do mundo, parece ser exagerado, nem os ingleses, que sempre foram os senhores do mar, o permitiriam. Até o caminho molhado para a Indía perdeu o seu impacto económico com a descoberta da América e a rota do galeão de Manila.
    táxi pluvioso

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  2. notório ressabiamento leonino contra exitos desportivos nacionais agravado por se situarem fora do centro "natural"; algo que se pode resolver com um "seguro" emprestimo obrigacionista a 9% (longe vão os tempos do capital de risco)

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  3. Visconde de Guilhomil1 de agosto de 2011 às 02:32

    O notável anónimo de comentário economicista fácil e pueril, aconchegado no regaço do guarda Abel, nunca vislumbrou um único bote a cruzar veloz o mar da Galiza, drapejando estandartes sul-americanos e profusamente trocados às mesas Acaloradas da Noite, com registos a lápis em agendas de capa azul, em sereno recato no bolso do Teles!

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