sexta-feira, 8 de julho de 2011

Festival de Almada

Neste Festival, já nos dias 13, 14 e 15, em horários de fim de tarde, às 19.30, 18.30 e 18.30 horas, respectivamente, o Teatro da Rainha apresentará de Thomas Bernhard três dramoletes. Trata-se de um tipo de teatro, o dramolete, que alia a concisão à acutilância política, sendo o que se poderia chamar de entremez contemporâneo dado o fulgor lúdico e cruel também. Mas sendo uma forma breve o dramolete é de uma diversidade estrutural e estilística notáveis.
Fustigando o nazismo teremos presentes três tipos de teatro aliados da tragicomédia, roçando os três dramoletes géneros estilísticos próximos do teatro do quotidiano, da comédia popular e da farsa trágica, pode-se dizer, sem que isso os tipifique de modo apenas único, unilateral, o teatro escapa a categorizações e a canonizações, pelo menos o que não é para/académico, portanto conformista, vanguardista e performativo obrigatoriamente, modo de se ver ao espelho nas sociabilidades que o isolam da vida, esquizofrenia essa em curso de afastamento total da realidade profunda, da história e da política.

Bernhard não perdoa aos seus e faz nestas peças o balanço dos estranhos reaparecimentos da mentalidade – sobrevivente, no fundo e revanchista – e dos comportamentos nazis que pertencem ao fenómeno mais vasto das formas políticas e de organização social que o capitalismo engendrou e pode engendrar, mesmo que na actualidade não exactamente pela mesma via.

Aqui veremos um conjunto de estranhas personagens, mulheres de polícias, beatas, políticos regionais e esposas amantíssimas, verdadeiramente crispadas com a realidade actual que têm de partilhar, multicultural e plena de emigrantes e estudantes e outros da mesma laia, a discorrer nostalgicamente sobre as vantagens do tempo de Hitler, tempo de superioridade racial em religião de Estado e de grandes feitos, como dizem. E, no fim, eis a vingança, não do chinês, mas a do turco. Bernhard antecipa de algum modo o que o 11 de Setembro marcou
como uma nova etapa da história planetária e, estamos, nestes dramoletes, em finais de oitenta – era, de facto, uma intuição extraordinariamente inteligente e homem de uma radicalidade justa. Também não se vendia por um prato de lentilhas.

Ficha Artística

TraduçãoIsabel Lopes e Fernando Mora Ramos

EncenaçãoFernando Mora Ramos

Dispositivo cénicoFernando Mora Ramos com a colaboração de António Canelas e Filipe Lopes

IluminaçãoCarina Galante e Fernando Mora Ramos

SonoplastiaCarlos Alberto Augusto

FigurinosTeatro da Rainha

InterpretaçãoIsabel Lopes, Elisabete Piecho, Carlos Borges, Paulo Calatré e Victor Santos

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