domingo, 3 de julho de 2011

Grécias do mundo uni-vos

Nas Grécias os mitos vendem-se como ketchup

Desde que são decorativos

E não metem medo

Nem já rendem para a dívida cumprir

O transe agora é um dobrar a cerviz suado

Colorido pirotécnico

Os dentes na pose salarial

E os agiotas dormem menos

Desde que as greves se avizinham do parlamento

Têm medo das vozes do corpo


Já não se fala de Platão

Nem da caverna

Vêem tudo à primeira

Os filhos da crise

E não estão para essas ilusões

Sonhadas de sombras projectadas

Sombras chinesas sim

Pragmáticas mais do que qualquer confusão entre o real e um seu duplo

Enganador

Mundo de aparências quando o mundo real é clandestino

Um duplo como duplo mais que puro sósia

Duplos só uísques

O espectáculo apenas primeiro que a teta não confunde

É alimento desde que Hollywood é Olimpo

E telegenia demagógica


Nem estão eles

Nem estamos nós

Para suportar a poluição ideológica

Filoxera que corrói lá metida em pista falsa as colunas do Partenon

Pelo interior da sua lingerie de ligas ausentes

Pedra papiro pedaços da origem do que a poesia fundou

Em jogo voyeur e bicho do papel mil patas

A instaurar a catástrofe laboratorial


E nisso nos comprazermos

No jornal das nove

A inevitável queda diária

Nas quedas

Os juros não cantam doem



Na Grécia sempre se falou muito do pensamento

Mas agora fala-se a propósito

De vício de esplanadas

Como se os peripatéticos passeios

Não fossem esplanadas andantes

E fala-se de fora

De vocações de ócio sem redenção

De Retsinas de perdição

E que é necessário acabar com elas

Não produzem senão sol

E deslembrar de compromissos

Sorrir a quem quer comer mitos

E fritos

E mostra as coxas

Euro Americanas


Os gregos nisso são bestiais

Lojas de mitos recordações

Trouxas argilas corações

E as tropas do turismo

Nas suas sapatilhas cómodas

Para unhas encravadas e pé de atleta mental

Olham à hora

O à

La Minute que lhes fixa a eternidade

Num ápice

Um fundo calcário

No calendário

Com odor a Heraclito

Porque Heraclito nas suas contradições de fogo

Cheirava a pinhal e ao seu contrário

Mais que Sócrates cheirasse a respeito da lei

Quando para a cicuta o dispusessem

Eutanásia ética um pouco coxa dos tempos clássicos

Para educar efebos do regime dizem

E não sabemos se seria exactamente assim

Porque pintaram o Sócrates

Como quiseram com os pincéis da ordem

Conveniente e só nos resta gramar a verdade que os manuais foram Cobrindo do sarro que não sai


Zenão dobrava o joelho

Na mesma cena panorâmica

Em que Sócrates bebia a cicuta

E Platão olhava a projecção da cena da caverna no seu exterior

Primeiro cinema


Da metade de meio por meio

E a mio de outra metade interminável

Zenão fazia as contas

Ou qualquer porra no género

E era já um tecnocrata

Da geometria absurda

Infinidade da medida deslucro

Do fémur reincidente

E menina do olho desgastando-se

A palma da mão a metro esticada

De polegar a indicador

A dar a referência prática artesanal


Lentamente esculpida pela erosão

Que o vício transporta

Pelas noites inúteis fora

A nossa pachorra

Não se acomoda aos queixumes lacrimejantes

Da nova tragédia

Que todos os dias produz clímaxes

E faz cachas

E não há fígado que resista


Não se aguenta

Um quotidiano sempre de apocalipses

Para alka seltzer consumir

Como quem atura medíocres alcandorados na política a pessoas

E no parlamento a recém chegados à capital e ao capital


Um tornado é um tornado

E nos tornados

Os credores voam

Como qualquer outra merda

Papel por exemplo mesmo que carne

Ou ouro de lei

Esse que paga silêncios

Eis a natureza das coisas

Emílio Navarro Soler

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