domingo, 24 de julho de 2011

A divina cinética da frase

A porta dá
Para rios que sobem
Dunas fábricas
Latejando na brisa que entra
Imagens em folhas múltiplas de corola

A porta fechada chave perdida
Sabemos lá onde quem a deixou estará
Quanto mais da chave e ao fechá-la
O que se fechará que não seja íntimo
Lucro crime branqueamento?

Mas era a ficção e entrei
Os passos nas teclas
Soletrado pianíssimo e respirações contidas
Do lado de lá
Uma galáxia sem corpo
Vazio e portanto há que meter mobília
O sarro dos dias Esquinas
Uma caligrafia de gritos assinando um tempo qualquer
Um modo de uso finalmente
Osmose des utópica

Sai de um postal da cartola o ilimitado onde o sol se deita
De linha recta arrependida vindo
E uma chuva de meteoritos domesticados imobiliza-se
Explosão cardio cósmica contida
E não há clown nem deuses nem arame para suspender a respiração

No canto A Amora no centro do corpo
Preta mora a savana
E fica um segundo longo que pára
De respirar fundo no olhar cessado

Antuérpia
Velhos em mesas bordadas de canecas
Tropa xenófoba catarro e rugas de preconceito
O olhar para quem a porcelana vale o que o barro cru não tem
E isso não se discute nem o Vira lá do sítio

Um túnel em câmara ardente as pernas andam
Contador silencioso
O ar como se fora caviar na mastigação lenta
E na tela sobreposições aleatórias

Se por um momento existe o círculo e se procura de um qualquer diabo
Sei que nele habita sobredotado o génio de Deus
Conheço o medo que cultiva
E o alpiste de mão oculta que pratica

Cinema de sombras
O cabide tem ombros
Alguém da cortina para lá
E as folhas acenando

Onde isto vai já não há uma casa
Houve casa e paredes conhecidas
A curva de um odor comprometido que pede distância
E sigo
Nenhuma Loba em colina alguma
Nem pirâmides de Gisé no canto da folha

É uma necessidade
Que temos
Ordenar o mundo como a casa
A rua esgueira-se como um rio
A lua lá está
E a matéria dos monstros
Nos dedos nus

Emílio Navarro Soler

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