segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Santo Santana

Não será, numa inversão elementar, como uma freira à frente de um bordel? À primeira parece estranho, mas não houve Sporting para trás e não deu o corpo performativo a Primeiro-ministro, uns escassos meses? Não durou, sabemos, já que o género “andar por aí” não estabiliza e os sérios do capitalismo não querem, nunca, um imprevisível ao comando da nação que especula, criativo demais como o pensamento luso quotidiano mais desbocado.
Já não estranhamos a criatividade institucional, desde Sócrates que é aliás obrigatória, decretada, escolarizada como o inglês técnico, e conta com o que na dimensão massiva é a chama comunicativa imparável, dinâmica de consumo constante de casos como ondas de marés várias, enovelados narrativos de circo básico engodando o apetite da populaça pelo escândalo aliados a grandes piqueniques partidários preenchidos pela excelência de um programa pimba que, diga-se, não será da “estética” do artista convidado e da sua palavra subtilmente grossa, mas do gosto do “programador” que cumpre a política rasteira ao serviço do nível estatístico satisfatório – tirado como quem tira a febre a um corpo sempre à beira dela - do aplauso acéfalo induzido. É necessário manter o povo no medo e na unanimidade burra.
Desde que a oferta perdeu o tino multiplicando-se os pães pelas infinitas variedades a partir da mesma farinha, seja o que for é possível, não só por via da imitação chinesa, mas por superior criatividade lusa delirante, inexcedível como neste caso e renovável em banhos de tinto e branco – em boa verdade, para alimentar a novela e desde que nos jardins de Berlusconi na Sardenha se viu que se passeava, ilustre fauno entre ninfas erotizadas, um ministro checo de pau feito (valha-nos isso) mostra-se logo a casa, já nem a lingerie caindo vale pelo que se segue e tira-se partido do arrojo que é expor a intimidade desnuda aos sedentos voyeurs anónimos. Desde que não se exponham os circuitos do fluxo financeiro subterrâneo, vale tudo, aí o perigo é a voracidade invejosa e descabelada dos terceiros massivos e rios de dólares roubados legalmente podem dar até motim, como em Londres, motim do povo que sub-consome.
A profusão de possibilidades humanas perfilada para cargos institucionais só atesta que não há perfis pensados, ou melhor, que o perfil é a proximidade e as qualificações curriculares e operacionais para nada contam, tanto fazendo ter um construtor civil num laboratório científico como um matemático a falar das vantagens do esparguete se o tema for a tragédia da obesidade em meio escolar aliada à necessidade da dieta garantida por outsourcing a oferecer a empresa amiga. É o caso aqui talvez, mais um caso Santana, e é qualquer coisa que está do lado do êxito que a confusão garante assente na rápida a decisão impensada – importa a decisão apenas. Hoje a virtude está na velocidade e com telemóveis e internet surfamos sempre à frente da sombra, performance que deixou de ser paradoxo de talento pistoleiro.
Mas não será erro nosso esta perspectiva? E não será indicado que uma freira possa gerir um bordel? Com todas as questões de humanidade implícitas pelo lado dramático apensas, mais as de saúde e doença, mais as especificamente de fé, não seria estranho. Ou seria? Para a freira digo. É que o Dr. Pedro Santana Lopes que também foi Secretário de Estado da Cultura e se sentava no Conselho de Ministros, é certamente uma pessoa misericordiosa e tem uma costela de Madre Teresa – grande gestora – desconhecida, mas que é estruturante de todo o seu ser. E não se sabe porquê, andando ele por aí, tinham que lhe arranjar um cargo, um papel, um lugar de relevo – ELE estava disponível, o Sporting está desta vez no bom caminho e ser o vereador líder da oposição em Lisboa é coisa pouca para tanta capacidade múltipla.
Depois da Europa recusada - segundo se diz e apenas repito aqui – talvez porque já não seja assim tão jovem e há uma idade para isso e depois, mais tarde, há outra de novo, nada melhor que a Santa Casa. Que dirá o Patriarca? As Misericórdias são um universo desconhecido e até um pouco opaco, estranhos lugares onde há dinheiro e poderes instalados há muito. E têm qualquer coisa de Casa Pia – não falo de pedofilia, falo de hierarquia, de modelo organizativo, de pré modernidade misturada com avançada tecnologia, claro. É um mundo que a democracia, em extinção, não chegou a conhecer. Talvez o Dr. Pedro Santana Lopes, vindo-se a confirmar este seu destino, venha a ser o autor da sua passagem à modernidade aberta e até escancarada e isso fazia falta, pois Misericórdias não são espaços de intimidade como os jardins de Berlusconi, são espaços públicos e devem mostrar os interiores, são também nossos. Pois não haja dúvida quanto à relevância do caso: com a produção de pobres em aumento exponencial garantida como meta deste governo, as Misericórdias necessitam mesmo de alargar, misericordiosamente, as suas tarefas diárias, e criar mesmo um serviço 112 alimentar para moribundos. Ninguém mais apto que Santana Lopes para uma nova dinâmica, mesmo um novo e nervoso galope de solidariedades ágeis praticadas com fé.

fernando mora ramos

4 comentários:

  1. isto deste que a pasteleira correu com a marianita perdeu metade da graça. administrador, pede-lhe que volte

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  2. O Patriarca nada tem a ver com a SCML que, ao contrário das restantes Misericórdias, é um organismo público. Mas quando se fala do que não sabe...

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  3. O Patriarca nada tem a ver com a Santa Casa? Essa é como pensar que os da maçonaria também não mandam nos governos etc etc É necessário raciocinar para além da ligação elementar. Há muito a descobrir neste caso e digo-lhe mais, há porventura mais coelhos na cartola que no caso da Casa Pia, também santa como sabe. As putas andam de mão dada todas e vão ás mesmas reuniões e às mesmas sessões nocturnas de animação pedófila. Mostre a cara.

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  4. O Patriarca nada tem a ver com a Misericórdia nem o Papa com o Vaticano. Isto não é uma questão de ligação funcional é de religião - re-ligar - e a Igreja está em peso na instituição naturalmente. A solução é bem divertida.Ainda agora o tal do Patriarca foi chamado para explicar a história das mulheres sacerdotes, eles são cerrados em matéria ideológica.Do que falo é de uma instituição que ainda ha pouco mamou a reforma da mãe de um conhecido meu por vias inimagináveis tendo como hipótese de prática institucional um quadro ético de bom senso. É um espaço opaco, muito opaco. Está tudo certo.

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