quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Uma canganhiça lixada

Fizeram-me canganhiça o meu pé não pousa minha perna não anda
meu olho vê para dentro mas não nada para fora está quieto de paisagens que não fixa
foi espírito malvado uma canganhiça dos antigos
vais no mato estás a pisar o capim pensas que é cobra nada é canganhiça
foi mesmo feio de chicuembo falso entre duas pedras e cabeça de macaco desorbitado quando tens cabeça de macaco desorbitado tens poder só assembleia de espírito
nem com dúzia de pescoço de galinha não apaziguas nem resolves com raiz de capim alto nada aí tens mesmo de parar e fazer dança ritual
despejas duas garrafas do uísque na base do poilão poilão grande despejas quatro aí talvez mas mais as galinha claro as galinha guardas pescoço pescoço de galinha apazigua cabeça de macaco desorbitado
foi meu falecido pai que ensinou ensinou com abecedário meu pai sabia de feitiço
fazia feitiço de pedagogia com pedras sete pedras
não posso receitar ainda que não tive revelação nocturna nem árvore nem vento que me falou no ouvido interno nada nem no subconsciente que fica depois do ouvido interno
para dar receita não estou autorizado
quem me ajuda a desenfeitiçar olho e perna
tem curandeiro no facebook?

Benjamim Saguate

1 comentário:

  1. Palavra admirável: canganhiça! Espero que o novo acordo ortográfico não esqueça estes vocábulos de sabor pitoresco e popular que tanto enriquecem a nossa língua tão poética

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