quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Epílogo lírico dividiano

Não há nada à beira de um clique
Que não seja sintético e não como a cobra
Entre silêncios seguindo num erotismo consagrado
Subindo rios de tempo e aves ligeiras
Em estranha fórmula rastejante
Cobra metafórica ou fálica forma?

E mais que somos
Diante da árvore
Deitando dólares nas raízes e bebendo aos deuses
A última canha do descaminho
Buscando humores amainada trégua
Exorcizando fantasmas
Respirando um tempo de outros tempos
As raízes respondendo emaranhando-se
Longe a erosão do visível
Na humidade interior o ser
A possibilidade da pétala

Dessa matéria que o vento consome
São as imagens das coisas que nelas desaparecem
São peliculares e sorriem sempre
Na plastificação constante do implastificável
Mesmo as horrendas intrigas de um comércio de emoções
Que não dá folga ao nosso amor imbricado
Florescem de hora de ponta em hora de ponta
Cobrindo as colinas de exterior cegante

Que tempo pára para ser outro
E quando e se parasse que instante fosse
De carne plena
E se pudesse acertar pelo ponteiro distraído de um relógio cósmico
As pulsões do que é vital
E as luas nesse tempo azulassem ténue
Entrassem como quem vai à escola da infância na mala do primeiro dia
Umas luas balbuciando as primeiras letras
Na luz frágil dos quartos crescentes que minguam
Luas de bolso aquecidas a pilhas de inteligência emotiva
Céus de mão na mão movendo-se em planos inclinados
Nas encostas de um sopro de barro e anilinas

Nada de tripas ao vivo nas estradas desérticas de um ponto perto de Gábu
Como eu vi e não creio ter visto
Nos dias que correm comem-se outras inverosimilhanças
Vi esta carne espalhada à beira dos trilhos dos jipes
Quem disso fala inverdades espalha
E revela o que deve esconder em nome da civilização talvez
E não canta o devido feito contra a dívida marchando
Que de cruéis odores a distância nos protege
E se os caviares da angústia se revelam em horas propícias
Na entrecortada percepção
Não falemos de vítimas
Falemos de aritmética
Sempre é mais asseado
Não há moscas a cirandar pelos números do desespero
E estes não fazem mossa a quem os manobra
Com perícia assassina


Como pode uma paisagem
Que é paisagem cravada na vista
E esta ser um postal
O início da entropia inaugurar
Se ela própria está por assim dizer
No cerco da sua própria autoria
Fechada a interpretações mais que a mão que a fez e desfez
Quanto mais se vê mais se imagina

Entremos numa espécie de epílogo da humanidade
Abençoados pela média da tal classe que a nomeia
E fazendo a vénia esperemos que o veludo se feche sobre
As pulsações em expoente com o estertor da cinza recomeçando
O que for de recomeçar como a tal Fénix
Ou a puta que os pariu

Emílio Navarro Soler

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