domingo, 4 de setembro de 2011

Carta da da Rodoviária de Caldas para Xico Nem Saguate meu reprimo sempre,

Estou viajar como disse na última. Hoje vou no Fátima. Não vou no Fátima porque seja religioso, sou animista, tem vida por todo o lado mesmo debaixo da pedra – nuca viu bicho, minhoca, escaravelho, debaixo da pedra? Gosto de ver tudo o que é grande, mesmo coisa pequeno bonito também, e dizem que Fátima é grande, tão grande que dá para dois milhões de joelhos juntos. Depois vou ver a Luz. Não vou ver a Luz de Fátima, essa luz é no espírito, vou ao Estádio da Luz ver a iluminação, as lâmpadas que são de baixo custo e que fazem resplandecer a relva de reverberações cintilantes e sobre as quais a bola levita deslizante – sou do Malhangalene como sabes primo, mas disseram que é melhor relva e esse assunto é definitivo do progresso da nossa bola, estou acumular massa crítica para depois. Em Fátima só quero ver a Azinheira mais o parque de estacionamento das almas. Deve ser uma árvore bonita. Disseram azinheira mas não sei, outros chamam sobreiro. Sobreiro ou Azinheira? É importante para a iconografia do milagre, sua hermenêutica visibilizada. Se fosse Oliveira também era outra coisa, se for Chaparro, a palavra está mal usada – Chaparro no milagre não faz clique, é palavra feio para coisa bonita, vi nos cromos, mesmo Acácia era melhor, mesmo vermelha. E a Virgem nunca apareceria numa vinha, ficava mal, como que desflorada de santidade necessária á boa imagem, não dava para ascender também, é baixinha, nem numa parreira, ficava assim tolhida de céu conveniente. Milagre sem céu conveniente é pouco, fica mais a força da gravidade, espécie de fralda de fora como truque e milagre não é truque. Quem que acredita que a Senhora voasse sem um céu para onde? Vou de Expresso. É um expresso que pára muitas vezes. É um expresso que tanto se chama de expresso como rápido mas parece muito parecido aí com os Oliveiras mas sem nada a balançar no telhado – esses Oliveira daí é nossa salvação desde os tempos. Depois vou na Luz. Na Luz tem relva mesmo relva. Quero ver a relva para perceber como a bola desliza. Esse milagre dos golo tem relva genética escondida. E depois vou ver Pedrouços, de onde partiram os naus. Os naus, os caravela – não estou a falar dos cigarros – foi onde português partiu. Quero ver donde partiu para perceber como chegou. Depois rescrevo primo.

Benjamim Saguate ainda nas Caldas sulfurosas

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